conceitos-chave
Biofato: De acordo com Nicole C. Karafyllis, o biofato designa entidades vivas que foram parcial ou totalmente modificadas por ação humana, situando-se entre o natural e o artificial. Diferente dos artefatos, os biofatos crescem e se desenvolvem, mas seu modo de existir é atravessado por tecnologias e intenções culturais. No campo do design e da arte, essa noção desafia as fronteiras entre criação, manipulação e coevolução com o vivo.
Inteligência Vegetal: Trata-se da compreensão de que as plantas são capazes de processar informações, adaptar-se ao ambiente, comunicar-se e tomar decisões de maneira distribuída e não-centralizada. Pesquisadores como Stefano Mancuso defendem que essa forma de inteligência, embora radicalmente diferente da animal, é altamente eficaz e desafia os modelos antropocêntricos de cognição. A inteligência vegetal inspira novos paradigmas epistêmicos e estéticos, baseados em colaboração, descentralização e sensibilidade ao entorno.
Etnobotânica: Campo interdisciplinar que investiga as relações entre seres humanos e plantas dentro de contextos culturais específicos. Ela estuda os usos, significados simbólicos, conhecimentos tradicionais e práticas associadas às plantas, especialmente entre comunidades indígenas, quilombolas e camponesas. A etnobotânica contribui para a valorização de epistemologias não-hegemônicas e para a conservação biocultural dos territórios.
Design Multiespécies: Abordagem do design que propõe criar a partir da consciência das interdependências entre humanos e outras espécies, levando em consideração as necessidades, agências e modos de vida de plantas, animais, fungos e microrganismos. Influenciado por autoras como Donna Haraway e Anna Tsing, o design multiespécies desafia a lógica utilitarista e antropocêntrica, propondo modos de coexistência, cuidado e reparação no contexto do Antropoceno.
Devir Vegetal: Inspirado na filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, o devir vegetal propõe uma metamorfose subjetiva em direção ao modo de ser das plantas: rizomático, coletivo, sensível e interdependente. É uma prática de pensamento e criação que busca escapar das hierarquias e fixações identitárias, abrindo-se a alianças com o outro não-humano. O devir vegetal, no contexto artístico e especulativo, oferece uma ferramenta conceitual potente para repensar formas de vida, tempo e criação.
Cartografia Sensível: Método para registrar processos de criação e pensamento de forma aberta, não linear, afetiva e situada. Perfeito para documentar os erros, acasos e encantamentos do processo.
Patrimônio Biocultural: Articula biodiversidade e diversidade cultural, reconhecendo que o conhecimento tradicional sobre plantas é inseparável dos territórios e modos de vida que o sustentam. Serve como base para políticas de conservação e ações artísticas engajadas.
Simpoiese: Conceito de Donna Haraway (contraposto à autopoiese de Maturana e Varela), designa sistemas que se fazem com outros. Toda criação é colaborativa, nunca autônoma. Ideal para descrever processos de co-criação com a matéria viva e seus entornos.
Ontologia Relacional: Uma forma de pensar o ser sempre em relação, por exemplo: humano e planta, tecnologia e natureza, arte e ciência. Contrapõe-se à ontologia dualista moderna (natureza vs. cultura) e aproxima-se de perspectivas indígenas.
Danowski, Déborah; Viveiros de Castro, Eduardo. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Cultura e Barbárie, 2014.
Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 1. Trad. Aurélio Guerra Neto, Célia Pinto Costa e Suely Rolnik. Editora 34, 1995. (Original de 1980)
Giraldo, Efrén. Sumário de plantas oficiosas. Medusa Editorial, 2021.
Haraway, Donna J. Staying with the trouble: Making kin in the Chthulucene. Duke University Press, 2016.
Karafyllis, Nicole C. Biofakte: Versuch über den Menschen zwischen Artefakt und Lebewesen. mentis Verlag, 2003.
Karafyllis, Nicole C. Biofacts: Essays on the Philosophy of Life Science and Technology. University of Paderborn Press, 2003.
Latour, Bruno. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Tradução de Paula Ramos. Bazar do Tempo, 2019. (Original: Où atterrir?, La Découverte, 2017)
Mancuso, Stefano. A revolução das plantas: um novo olhar sobre a inteligência vegetal. Tradução de Fernanda Figueiredo.
Ubu Editora, 2019.
Mancuso, Stefano. A nação das plantas: um manifesto. Tradução de Fernanda Figueiredo. Ubu Editora, 2020.
Mancuso, Stefano. A incrível viagem das plantas. Tradução de Fernanda Figueiredo. Ubu Editora, 2021.
Negrotti, Massimo. Il Progetto Della Natura: il contributo delle scienze della vita all’artefatto. FrancoAngeli, 2001.
Stengers, Isabelle. No tempo das catástrofes: Resistir à barbárie que se aproxima. Tradução de André Telles. Cosac Naify, 2015. (Original: Au temps des catastrophes, 2009)
bibliografia
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